Onde o Sol se esconde
Quando quer se pôr
E nem a bússola responde
Quando se precisa de orientação
Lá pros lados de Santa Branca
Numa cidade de casas tão sutis
Que no céu só emboca
A Igreja da Matriz
Que, pro perdido, é a salvação
Dá tanto pecado
Tanta mulher falada
Tanto nego encrespado
Tanta coisa entortada
Que o Padre se injuriou:
“Para com isso!
Isso não é brincadeira.
Essa igreja tá parecendo cortiço.”
E com ideia de flecha certeira
Pra praia uma fuga planejou
Já que por lá chegou um turista
Que era do Padre o primo
Um cabra paulista
Metido a grã-fino
Que pra quebrar o galho servia
E que foi convidado pra Igreja da
Matriz
Com a seguinte ordem:
“Não deixa passar um infeliz,
Que vai virar desordem.”
E o dito topou cheio de valentia
Que noutro dia
Antes do café coado
O Padre, em cantoria
Com mala e tudo
Foi passar uns dias no litoral
E o primo, dentro da batina
Aceso de cerveja
Fez cara de muquirana
E foi pra igreja
Com panca de maioral
Ah, e com o Padre substituto
Que o outro adoeceu
O povo que era matuto
À igreja compareceu
Cheio dos “observatório”
E tinha patrão, patroa
Menina, matrona
Nego atento e nego à-toa
Tudo em fila indiana
Na porta do confessionário
Onde, meio sem alegria
O Padreco se acomodou
E do lado de lá da gelosia
Um caboclo se achegou
Todo cheio de “pandareco”
Falando de forma indignada:
“Padre! Minha ‘muié’ não toma jeito.
Só não dormiu, ainda,
Com ‘muié’ e criança de peito.”
Que “bem feito”, disse o Padreco
“Com seu bafo de onça,
Não há cristão que ‘guenta’.”
E decretou, como sentença
Arranjar uma bala de menta
E rezar até gastar a goela
Que o caboclo se doeu:
“Seu Padre! Ela que peca,
E quem paga sou eu?”
E o Padreco devolveu, de peteca:
“Ué, você não se confessou por ela?”
E aí, quando o Padre voltou
A igreja tava que era uma beleza
Nem um pecador restou
E o Padre agradeceu a limpeza
Com uma benção e uma grana graúda
Só que uns meses depois
Um problema sério
Pro Padre, na igreja, se expôs
Pois na porta do confessionário
Tinha uma fila de moça barriguda
Das quais, pra primeira perguntou
Ao atendê-la em tom de prece:
“Cadê o pai do rebento?”
E a moça, sem muito pra dizer,
disse:
“Não tem pai o neném.”
E o Padre se espantou:
“Mas de joelhos
O outro Padre não te colocou?”
“Sim”, disse ela, “me colocou de
joelhos
E
noutras posições, também.”